Vou contar um pouco sobre minha querida mãe. Sofia é o nome que dei pra ela nesse diário, seria pecado colocar o verdadeiro nome dela, num diário tão promíscuo e esdrúxulo como esse. Também não vou dar muito detalhes físicos sobre ela, só adianto que tem o cabelo negros, as vezes é magra e as vezes fica cheinha, devido ao efeito sanfona dos inúmeros regimes que se submete. Nesses dias minha mãe anda feliz, porque está magra, graças a um regime da moda que leu num livro. Se não me engano a dona Francisca também tem esse livro. Mas não sei que tipo de regime pode precisar a mãe da Dani, porque ela sempre foi magra, agora minha mãe sempre travou uma luta constante contra o peso.
Somos só nois dois. Mãe e filho num apartamento modesto aqui na Asa Sul. Já disse que meu pai faleceu quando eu tinha 4 anos, não interessa contar aqui sobre a sua morte, mas o que me deixa intrigado até hoje é o fato de minha mãe não ter arrumado um macho. O último namorado que ela teve se não me falha a memória, foi quando eu tinha uns 11 anos. Desde então acho que Sofia virou uma mulher assexuada. Não estou reclamando disso, pra mim é ótimo sem um outro macho aqui em casa, dizendo o que devo fazer, como me portar, com minha mãe eu tenho liberdades que outros adolescentes de minha idade não tem. Quando eu nasci, minha mãe era bem jovem, tinha 18 anos, meu pai fora mais velho, 28 anos, é bom ter uma mãe jovem, é mais tolerante com minhas excentricidades. Por exemplo, quando chegou em casa e estávamos vendo o Império dos Sentidos, fez uma cena de mãe durona, mas depois que Dani foi embora, ela sentou ao meu lado no sofá e disse “Volta o filme, quero ver do começo”. Depois discutimos a relação artística do filme, chegamos a conclusão que Império dos Sentidos é uma crítica a hipocrisia sexual. Converso sobre quase tudo com ela, é bem receptiva as minhas idéias e sabe respeitar minha opinião, não é cabeça-dura. Hoje discuti minha relação com a Dani, já me antecipando ao flerte que tive com a Valquíria.
- Meu querido, infidelidade até no namoro é normal. Pensei que você gostasse da Daniela.
- Eu gosto, mas esse problema dela me deixou meio grilado – disse
- Que problema ?
- De memória.
- Como você descobriu isso ?
- A dona Francisca me falou, mas o pior é que quando ela consome álcool vira uma puta.
- A Francisca vira uma puta ?
- Não mãe, a Dani.
- Há tá,tá,tá, desculpe. – disse envergonhada – Veja bem meu filho, esse trauma da Dani é algo que ninguém comenta na família dela, aliás, a Francisca se isolou da família por causa desse irmão que violentou Dani, na época foi algo muito triste. Bem você tem que repensar esse namoro, uma hora vocês vão transar e... – ela coloca a mão nos meus joelho e me olha no olhos adivinhando –Não acredito, vocês já transaram ?
- Transamos, mas ela não lembra, estava alcoolizada.
- É mesmo ? Como foi ?
Minha mãe as vezes é muito cara de pau. Tem uma curiosidade muito lasciva. Tudo bem que tínhamos uma relação familiar aberta, mas esse detalhes eu não era obrigado a contar
- Que pergunta é essa mãe, sei lá, a gente estava doidão, transamos ué
- E ela não lembra de nada mesmo ?
- Diz que não lembra. Só isso que me disse.
Agora que vem a parte mais bizarra dessa história. Vou explicar o significado do tal do “Me perdoe”. Mas primeiro eu tenho uma teoria esdrúxula para contar. Eu acredito que as mulheres são mais sinceras quando recebem sexo oral, nesse momento de êxtase sublime elas falam com todo o poder da alma, pode perguntar o que quiser para elas , que serão sinceras. Pergunte ainda com a cara enfiada no meio das pernas dela “Fulana, você me trai com o Beltrano ?”, não se surpreenda se ela responder “Sim amor, eu te trai, mas eu te amo”, nesse momento elas estão confusas mentalmente, é a hora ideal de qualquer homem procurar saber alguma verdade. E com a Dani não foi diferente, ela deu um furo dizendo “Me perdoe ?”. Perdoar do que ?
Ontem fomos no cinema ver um desses enlatados americanos cheios de clichês, pra ser mais exato uma comédia de colegiais americanos. Aquela mesma história, tem os alunos que são populares e os que são os rejeitados, e o personagem principal é um rejeitado que fica apaixonado pela garota mais linda do colégio, lembre-se que nesse momento do filme a garota aparece em câmera lenta com as mechas loiras esvoaçando no ar e a canção tema de amor tocando. Então de alguma maneira ele consegue ficar popular e conquista a garota, então começa a rejeitar seus amigos CDF´s e aquela velha amiga que esconde uma paixão reprimida por ele. Todos os filmes colegiais americanos são assim, o popular é o mau e o rejeitado é o bem. Esqueci de dizer que tem o pai do rejeitado, que cobra do garoto mais empenho na equipe de futebol americano, porque para o pai, futebol americano é a essência da vida . Realmente a cultura americana, parece ser bem imbecil, pelo menos essa é a visão que tenho com esses filmecos feitos por lá. Se eu fosse fazer o roteiro de um filme pra adolescente, nada mais oportuno que utilizar as páginas desse diário. Olha só, aqui tem sexo, mentiras, intrigas, situações bizarras e revelações. Como o ápice de qualquer filme são as revelações que acontece em sua trama, vou descrever as seguintes cenas entre eu e minha querida e enigmática garota.
Gustavo e Daniela saem da sala de cinema, ela continua misteriosa, não fala muito, olha as vitrines, evita olhar pra face de seu companheiro, vão até a praça de alimentação comer um junk food, ou melhor, crepe de queijo com catupiri e frango. Então Gustavo começa a sentir a situação constrangedora que paira no ar. Eles comem o crepe, silenciosos. Então Gustavo quebra o silêncio:
- Não vai me contar ?
- Contar o que ? – ela tenta esconder seu nervosismo fatiando o crepe em pedaços disformes
- Sobre o que devo te perdoar.
Ela fica em silêncio, coloca um pedaço de crepe e mastiga lentamente. Gustavo espera ela terminar de mastigar pacientemente, mas ela continua com seu silêncio.
- Eu queria de perdoar, mas infelizmente eu não sei o motivo do seu pedido. –diz Gustavo
No rosto de Daniela então corre um filete de lágrima em cada face. Ela limpa com o dedo a lágrima e olha pela primeira vez nos olhos de Gustavo.
- Eu não sou doida Gustavo. Eu não sou doida.- ela então segura nas mãos dele sobre a mesa e diz - Eu não tenho amnésia, nunca tive nenhum bloqueio. Eu nunca fui estuprada como minha mãe te disse. Ela não sabe de nada, ela não sabe de porra nenhuma.
Então essa é uma cena com reviravolta. Talvez tenha o mesmo drama das histórias pitorescas de Nelson Rodrigues com um toque bizarro de Rubem Fonseca, mas se tudo isso fosse um filme, seria o ponto alto da história. Estou me precipitando, afinal de contas isso é um diário, pode acontecer coisas mais estranhas nesse meu dia a dia , posso até morrer e tudo isso que escrevo pode servir de testemunho de um curto passado de um carinha de 17 anos.
Atenção: Esse diário possue gravÃssimos erros de português, se você encontrou algum erro não precisa avisar nos comments. Eu sei que sou um ignorante.