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"Muitos perderam o emprego, faliram, destruíram seus casamentos , foram para a cadeia e acabaram até executados por terem dito a verdade. Não estou advogando uma vida de prevaricação, mas é preciso deixar claro que a honestidade pode causar muita dor"
Donald G.Smith


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9.12.04

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A pior das emoções humanas: o ódio

Fui com meu primo Thiago se encontrar com uma galera num bar lá da 109 sul, quem não conhece o bar se chama Estação 109. É tipo um point underground, um ambiente freqüentado por rockeiros, metaleiros, ou simplesmente por quem faz parte de alguma banda de rock, aliás, no Distrito Federal tem a maior concentração de bandas do mundo por metro quadrado. Mas não só de roqueiros vive o underground, tem também playboys e patricinhas que aparecem de tempos em tempos quando é moda ter um visual agressivo e cabelos pintados com cores extravagantes. Esse lugar é o ponto de partida da noite, da Estação 109 até o Beirute que fica na outra ponta da rua, fica lotado de jovens e adolescentes com seus carros tocando o último cd daquela banda gringa que ninguém conhece, ai fica um monte de gente ao redor dos alto-falantes distorcidos dos carros curtindo o som e bebendo cerveja que é vendida por ambulantes com seus isopores carregados. Bem, eu não freqüento o Beirute porque não sou gay e nem simpatizante, alguns chamam o lugar de Gayrute, prefiro ficar no hemisfério norte da quadra, junto com os “loucos”, como dizem os mais comportados. Ali qualquer um pode se embebedar, se você tem 14 anos e quer tomar um porre, lá é liberado. Se a mesada permitir, tem também drogas, e na parte de trás do comércio, alguns se picam e fumam tranqüilamente um baseado. Alguns moradores dos prédios residenciais sempre ficam incomodados com a marola da maconha que sobe até suas janelas. Pior mesmo é o forte cheiro de urina, vômito e fezes que o povo deposita por ali durante a noite. Quando ficamos bêbados parecemos um pouco com nossos irmãos primatas, urinamos e cagamos onde bem entende, somos todos um porcos desajustados pela química.

De todos as criaturas viventes no planeta, o ser humano com certeza é o animal mais estranho. O ser humano é imprevisível, diferente dos outros animais que tem hábitos já predeterminados pela sua natureza selvagem. Até o sexo é complicado, menos quando o álcool reage sobre o organismo, então o homem se torna um primata, um animal como qualquer um no ecossistema. Nesse dia, vi um casal trepando dentro do carro, aliás tinha uma platéia ao redor, e quando o casal entorpecido saiu no meio dos vidros embaçados pela transpiração abundante, recebeu aplausos. Ai sim tem uma diferença entre os animais e os seres humanos: os aplausos. Você nunca verá uma tribo de macacos voyears batendo palmas após ver uma cena ao vivo de sexo entre dois chimpanzés.

Mas não só o sexo é complicado entre os humanos, a socialização é complicada também. Conversar com o próximo se tornou algo muito estúpido, não acho construtivo conversar sobre a vida alheia, falar mal dos outros sem a presença da vítima. O ser humano tem a língua cheia de cólera, se as pessoas fossem condenadas por suas palavras já estariam dentro do caixão. Eu mesmo nesse diário, com minhas palavras já falei muitas coisas estúpidas, mas é diferente. Aqui o que coloco são meus pensamentos, não estou abrindo a boca, esse diário é como se fosse um desabafo de minhas perturbações diárias, acho que se todas as pessoas usassem da escrita pra desabafar suas frustrações e emoções interiores, o mundo seria bem melhor. Mesmo assim eu me acho mesquinho. Mesquinho comigo mesmo e com Daniela. Ainda penso nela. Ainda penso naquele seu pescosinho fino e cheiroso.

- Cara aquele Paulão é o muito filho da puta – disse Thiago
- O que ele te fez ? – perguntei segurando minha sétima latinha de cerveja numa roda de conversa em alguma mesa da Estação 109
- Não me chama para as festas na casa dele. Mas quando precisa de mim , me enche o saco no celular.
- É o Paulão é foda. – disse um outro
- Paulão quando precisa de alguém, vem com aquela fala mansa. Quando rola as festas nem dá um toque na galera – e outro fala
- Paulão é um filhinho de papai, não faz nada da vida além de fumar maconha.- e mais um outro continua

Fiquei calado, deixei eles soltarem os bichos. Paulão é meu amigo, tenho consideração por ele. O meu celular tocou, adivinha quem era ? O próprio. Conversei com ele um pouco, enquanto os outros ainda escarnecia seu nome.

- Gustavo, chegaê no TacoMax. Tá massa aqui. A Valquíria e a Luana estão comigo, tá cheio de mulher aqui, chama a galera.

“Pô finalmente o Paulão traz alguma novidade”,”Paulão é gente fina” , “Será que ele pode me apresentar a tal da Mirian, ela tá lá também Gustavo ? Tá Gustavo ?”. Isso é uma prova da incoerência das ações humanas, me lembrei então de um ditado que se encaixa nessa ocasião : Quem é amigo de todo mundo, não é amigo de ninguém”. Quase mandei todo mundo tomar no cu.

Fomos para o TacoMax. Um bar-restaurante com biritas caras e comida mexicana. Um antro de playboys marombeiros e patricinhas uniformizadas com a moda, uma lugar perigoso e inóspito. Mas Valquíria estava lá. Essa foi a primeira vez que a vi sem trajes esportivos. Não que eu esteja reclamando do traje esportivo que lhe mostra os moldes perfeitos do seu corpo, de jeito nenhum. Mas foi uma surpresa me encontrar com ela sem os suores decorrentes do esforço físico, ela estava linda. Estava com a mesma farda utilizada pelas patricinhas teens. A calça parecia querer explodir por cima de suas coxas grossas, aquilo me excitou na hora, queria rasgar aquela calça dela com os dentes e lamber suas coxas. Ela estava com o cabelo solto, e o cabelo negro com mechas vermelhas se misturavam nas suas costas de ombros firmes, e usava uma camiseta branca da Coolci com um desenho prateado. Alguns dos conhecidos que estavam comigo ficaram de cara quando me viram junto com a Valquíria, alguns são amigos de Daniela. Com certeza no dia seguinte ela saberia, nem pensei nas conseqüências, estava bêbado. Tomei muita tequila. Agora vem a parte triste dessa minha noite. Esse encontro com a Val teve um começo feliz e um final triste. Falamos de coisas íntimas, rimos das coisas esdrúxulas que Paulão falava, nos beijamos várias vezes, então acompanhei ela até o banheiro. Acho que algumas pessoas se sentem desafiadas quando estão solitárias em suas mesas, e vêem um outro semelhante bem acompanhado. Acho que esse foi o motivo. Eu não me visto como certas criaturas, eu não sigo um padrão, preciso apenas de uma calça, uma camiseta e um tênis. Não ligo pra roupas de marcas, sou simples. As pessoas observavam isso, eu não era mais uma vitrine de produtos estéticos, infelizmente estava numa passarela onde as pessoas circulavam entre as mesas a fim de serem notadas e adoradas pela sua aparência. Um desses filhos da puta puxou o cabelo da Val, chega jogou a cabeça dela pra trás com o tranco. Fui tentar dialogar com o tal e minha surpresa foi que fui atacado. Levei um murro que me quebrou o nariz e então cai no chão desacordado. Pra falar a verdade nem me lembro do murro, estava tão aéreo, o que escrevo agora é baseado em relatos de colegas meus que viram a cena.

Isso é mais um exemplo da excentricidade da personalidade humana, alguns possuem em sua índole um pouco de civilidade, outros já trazem no sangue a violência primata de seus antepassados. Pela primeira vez na minha vida eu penso na morte com mais determinação. Escrevendo agora com ódio no meu coração, sinto a pior das emoções humanas; o ódio. Parece que aquele murro me trouxe energias negativas ocultas da minha alma. Nunca pensei em desenvolver esse sentimento doentio, nunca desejei a morte de ninguém. Essa fato aconteceu a três dias atrás, e minha cólera ainda me consome. Hoje descobri o nome do maldito, não foi difícil conseguir seu endereço, em Brasília todo mundo se conhece. Sei onde o meu algoz estuda, até seu telefone residencial está anotado comigo. Preciso ligar para o Thiago, eu sei que ele pode me ajudar. Já me ajudou antes, somos primos, quase irmãos.


# Publicado por GUSTAVO | |

Atenção: Esse diário possue gravíssimos erros de português, se você encontrou algum erro não precisa avisar nos comments. Eu sei que sou um ignorante.

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